terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Democracia: da sociedade para o casal

Esta semana estive lendo o capítulo "Família", do livro Mundo em Descontrole - O que a globalização está fazendo de nós - do sociólogo inglês Anthony Giddens. Apesar do título, não pretendo discutir aqui nada a respeito da globalização. O que me chamou a atenção no referido capítulo foi o paralelo que autor traça entre a democracia pública e a relação entre o casal. Como, muitas vezes, questões de ordem social e política podem ajudar a refletir sobre situações de nossa intimidade. De acordo com o autor, o princípio da igualdade em direitos e responsabilidades é o alicerce da democracia. Significa a existência do respeito mútuo. E, para que esse princípio possa ser sustentado, o diálogo passa a ser o instrumento que irá viabilizar respeito entre as pessoas. Em suas palavras, "o diálogo aberto é uma propriedade essencial da democracia". Os sistemas democráticos são uma tentativa de tirar das mãos de poucos, a tomada de decisões. Em última instância, é a recusa ao autoritarismo. Agora, toda vez que a democracia é "assassinada" pelo autoristarismo e/ou violência, morrem também o respeito e a igualdade. Voltando para a relação entre o casal, vejo que é exatamente assim que acontece: toda vez que o diálogo não é eficiente, uma pessoa se sobrepõe a outra. Nasce, então, uma atitude autoritária e/ou violenta. A violência não precisa ser necessariamente física. Pode ser também psicológica, cultural, moral etc. Quando o diálogo não é de qualidade ou, quando a impaciência de um ou de ambos nas discussões não permite que o debate avance, a relação passa a correr riscos. Ainda, de acordo com Giddens: "o relacionamento puro é baseado na comunidade, de tal modo que compreender o ponto de vista da outra pessoa é essencial (Grifo nosso)". Como irá se compreender o que é essencial se não há diálogo ou disponibilidade para tal? Por isso, insisto: pense bem na forma como tem conduzido a comunicação em sua relação. Quando se sai da democracia e frequenta-se a zona árida do autoritarismo, o desrespeito está em curso. Desse modo, o relacionamento pode simplesmente falir, ou então durar, sendo assentado, porém, em bases neuróticas como medo, submissão etc. Amar também é respeitar, ouvir, dizer, compreender, debater, construir e transformar; e não, um jogo de disputa entre quem manda e quem obedece.
Um abraço fraterno,
Douglas Amorim