sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Entevista na Band - Segunda-feira 17/01/11 - 14 horas

Olá amigos (as) visitantes. Fui convidado, gentilmente, pela equipe do programa Tudo de Bom, da TV Bandeirantes - Minas Gerais, para participar do mesmo. O tema será "Dificuldade que as pessoas tem em dizer NÃO". Sintam-se, pois, todos (as) convidados (as) a nos prestigiar!

Um abraço fraterno,

Douglas Amorim

Dizer ou não dizer NÃO: Eis a questão!

Como é de meu costume, escrever artigos, tratando dos temas abordados pelos programas de TV e rádio, dos quais participo, dessa vez, convido você, amigo (a) visitante, a mais uma leitura. Fui convidado, gentilmente, pela equipe do programa TUDO DE BOM, da TV Bandeirantes, de Belo Horizonte, e, o tema do referido programa é “ O MEDO DE DIZER NÃO”. Espero que a leitura possa colaborar, de alguma forma, para seu enriquecimento. Ao longo dos anos, em minha prática de consultório, assim como de minha equipe, digo que essa, é uma temática recorrente nos atendimentos. Uma das mais recentes foi uma paciente, já idosa, que, de repente, recebe a visita surpresa de sua irmã. Até aí, tudo bem, se não fosse um pequeno detalhe. Ela vinha com um cachorro da raça Labrador (e sabemos que não é um cachorro pequeno) à tira colo, dizendo que estava saindo de viagem, naquele momento, e que deixaria o cão ali, porque não tinha com quem deixá-lo. O que mais me espantou é que não foi um pedido: foi um COMUNICADO. Resultado: minha paciente, que não gosta de cachorros, permaneceu com o mesmo por quinze dias, às custas de um esforço mental e físico descomunal. Foi uma tortura que vocês nem queiram imaginar. Pois bem. Esse foi apenas um exemplo, uma “gota num oceano” do que já ouvi centenas de vezes, em meu exercício profissional. Ao meu ver, as pessoas tem dificuldades em dizer não, para o outro, no final das contas, pelos medoS de dizer o que pensa e o que sente. Grifei a palavra medo, propositalmente no plural, porque, basicamente, se constatam vários:

- Medo de dizer não para alguém, e, algum dia, você precisar daquela pessoa e ela lhe negar auxílio;

- Medo de que essa pessoa não goste mais de você e se afaste de seu convívio ou passe a lhe tratar mal;

- Medo da pessoa espalhar, para muita gente, o fato de você ser uma pessoa egoísta e que não se presta a ajudar pessoas em dificuldade;

- Medo do julgamento que os outros farão ao seu respeito.


Estas descrições, acima, explicitam as relações entre adultos. No entanto, é preciso frisar, também, a questão do medo de dizer não, por parte dos pais, aos seus filhos:


- Sensação de culpa em não atender aos desejos de pessoas, que os pais julgam, serem mais frágeis e indefesas;

- Medo de não prover os desejos dos filhos e estes ficarem com algum tipo de seqüela psicológica;

- Uma sensação que não é muito bem a de medo, mas está ancorada no seguinte raciocínio: “se eu não tive determinada coisa, na infância, e agora, tenho condições de fazê-lo, para meu filho, eu quero e devo fazer”;

- Por fim, uma situação que não é de medo, especificamente, também, mas que se dá pela exaustão após a intensa insistência por parte do filho.



Ainda falando um pouco, sobre as crianças, é sabido que, até bem pouco tempo, elas eram tratadas com desrespeito, crueldade e castigos brutos. Com o passar dos anos, a partir, principalmente, dos avanços dos métodos de ensino e educação, tais tratamentos foram revistos e elas passaram a ser cuidadas com respeito, carinho e cuidado. No entanto, passou-se, ao que tudo indica, de um extremo para outro. Extremo de proteção, tolerância e atendimentos, em excesso, de seus desejos. A conseqüência, que assistimos atualmente, é uma geração de crianças mimadas, melindrosas, violentas e sem limites. Há de se pensar, portanto, que uma determinada dose de privação dos desejos dos pequenos, faz com eles entendam que, na vida, existem limites que não podem ser desrespeitados. Inclusive, porque, quando se tornarem adultos, perceberão que, a todo momento, a vida impõe limites nas esferas sociais, profissionais, financeiras, afetivas, entre outras. E, se a criança aprende a entender a noção de limites, desde cedo, certamente será um adulto melhor adaptado para a vida. Por isso, dizer não, oportunamente, nesta fase da vida, é tão fundamental.



Voltemos agora à situação com adultos. Quantas vezes você já sentiu raiva de si mesmo, sentiu-se burro (a), idiota, por ter sido prestativo em atender um desejo alheio, que você, nem de longe, queria? Quantas vezes você já percebeu que, pessoas muito prestativas, sempre são cercadas por um bando de “sanguessugas”? E mais. Digamos que exista o dia que você proclame a sua “independência psicológica”. Isso, quase sempre conseguido, em trabalho de psicoterapia, gera um novo problema: para as pessoas que você sempre foi prestativo (a), (entenda-se, servil), você é execrado (a) e, quase sempre, tudo que você fizera, até aquele dia, perdera o valor, quase instantaneamente, em virtude de sua negativa atual. No entanto, não se preocupe. Se você mantiver essa conduta, de agora em diante, a relação com essa pessoa se reorganiza de uma nova forma e, muito provavelmente, ela procurará outro (a) para explorar.



Bem, diante de tudo o que discutimos, como agir? Em primeiro lugar, é preciso entender que, DIZER NÃO, tornou-se uma espécie de tabu em nossa cultura, quase um pecado. Digo isso, porque, por experiência própria, em outras culturas, como por exemplo, a norte-americana, esse é um procedimento absolutamente normal e bem assimilado entre as pessoas. Ocorre que, quando estamos diante do nosso (a) (a) ouvinte e lhe falamos NÃO, ele (a) interpreta isso como não natural e, quem sabe, até ofensivo. Assim, a partir do que discutimos, neste breve texto, é necessário que adquiramos essa sabedoria de saber que quase sempre, nosso ouvinte não está preparado para a resposta negativa. Portanto, devemos saber colocar as nossas palavras de forma suave e natural mostrando que ele não é seu inimigo, mas que, tão somente, não lhe é possível e/ou desejável, atender à sua demanda. Quanto mais cada um de nós, passar a imagem da NATURALIDADE em se dizer não, é que, aos poucos, penso que conseguiremos modificar a cultura neste aspecto. Agora é com você: Dizer ou não dizer não, eis a questão!

Um abraço fraterno,


Douglas Amorim